Ao contrário dos vampiros míticos, os morcegos-vampiros não atacam os humanos - ou não? Os cientistas descobriram a primeira evidência de morcegos vampiros cocando no sangue humano.
Diphylla ecaudata, também conhecido como morcego-vampiro de pernas peludas, habita florestas no nordeste do Brasil e é uma das três espécies de morcegos-vampiros que se alimentam apenas de sangue. Pensa-se que os pássaros sejam sua única presa, mas a análise do esterco revelou recentemente que outros tipos de animais de duas pernas - humanos - estavam na conta da tarifa do morcego.
As preferências alimentares dos morcegos podem ter mudado porque os pássaros eram difíceis de encontrar, sugerindo que mesmo os morcegos altamente especializados poderiam ter mais flexibilidade em suas dietas do que o esperado, escreveram os autores do estudo.
Os morcegos vampiros, que vivem apenas nas Américas, alimentam-se perfurando a pele de suas presas com incisivos afiados e lambendo o sangue que flui, misturando-o com saliva que impede que sua refeição sangrenta coagule muito rapidamente. Estudos anteriores mostraram que esses morcegos não armazenam gordura em seus corpos e não podem sobreviver sem comida por mais de alguns dias.
Os cientistas estavam curiosos sobre como um morcego que depende de pássaros e deve comer a cada dois dias modificaria seu comportamento alimentar se sua presa escolhida estivesse menos disponível. Para descobrir o que mais D. ecaudata podem estar comendo, eles coletaram 70 amostras fecais de uma colônia que vive em uma caverna no Parque Nacional Catimbau, no Brasil, e extraíram o DNA para identificar as refeições mais recentes dos morcegos.
São pessoas!
Sua análise revelou que os morcegos estavam se alimentando de galinhas e, mais surpreendentemente, de humanos. D. ecaudata é adaptado para consumir sangue de aves, que possui maior teor de água e gordura do que o sangue de mamíferos e menores concentrações de proteínas. É possível que os morcegos não possam sobreviver sozinhos com sangue humano e tenham que procurar pelo menos um pouco de sangue dos pássaros - mesmo se esses pássaros não fossem sua presa habitual, observaram os pesquisadores. Os animais domésticos e as pessoas geralmente moram juntas naquela região, facilitando aos morcegos uma refeição rápida de quem estiver disponível.
Os pássaros podem estar ficando escassos nas florestas onde os morcegos vivem por causa da atividade humana. Cerca de metade das 510 espécies de aves nativas que vivem na Caatinga no Brasil - a vasta região florestal que está parcialmente contida no Parque Nacional Catimbau - é descrita como moderada a altamente sensível a perturbações humanas, segundo um estudo anterior.
Desvendando as circunstâncias que levaram D. ecaudata confiar no sangue humano e de galinha seria "um interessante exercício ecológico", escreveram os autores do estudo. Mas a perspectiva de morcegos vampiros se alimentando de seres humanos também suscita preocupações com a saúde pública, pois pode trazer um risco maior de transmissão da raiva, disseram os pesquisadores.
Os resultados foram publicados online na edição de dezembro de 2016 da revista Acta Chiropterologica.